Muito mais que um panelaço: resistências sociais em tempos de coronavírus
Breno Bringel[1]
À medida que a pandemia do coronavírus foi chegando ao Brasil, difundiu-se uma onda de múltiplos sentimentos entre a população. Agonia diante da saturação de acontecimentos, ansiedade perante a reclusão, frustação face a impotência e perplexidade ante o desconhecido. As negligências e as desastrosas aparições públicas de um irresponsável presidente levaram, por sua vez, quase todo o país a uma sensação de desproteção e, inclusive, de raiva diante da irresponsabilidade política de um dos poucos mandatários no mundo que ousa contrariar abertamente as recomendações da Organização Mundial da Saúde e dos cientistas.
O medo ao vírus (e, em muitos casos, principalmente às suas consequências) é uma postura muito estendida, mas pior ainda é o negacionismo daqueles que continuam a minimizar a importância da pandemia. Com argumentos como “a letalidade não é tão alta”, “a gripe mata mais” ou “já tivemos epidemias e pandemias piores”, Bolsonaro e seu séquito buscam, uma vez mais (assim como já o fizera com o holocausto e com a mudança climática), gerar controvérsias diante de fatos empiricamente e historicamente verificáveis sobre os quais existe um amplo consenso. Seja por egoísmo, por convicções religiosas, por estratégia política ou por perturbações psíquicas de algum tipo, colocam desta vez em risco a vida de contingentes enormes da população, especialmente dos mais vulneráveis.
A despeito desta dramática situação causada por uma posição leviana e desumana diante da pandemia, as medidas de isolamento social e as duras políticas de restrição à mobilidade, embora necessárias para tentar conter a expansão do contágio, geram desdobramentos que precisam ser problematizados. Isso precisa ser feito não pelos motivos expostos pela extrema-direita e sim porque pode colocar em xeque nossas liberdades e a democracia, fortalecendo o autoritarismo já tão disseminado recentemente.
Mundo afora, o Estado interventor é reivindicado atualmente até pelos neoliberais, mas com ele chegamos militares nas ruas e a instalação de uma lógica bélica não somente contra o vírus, mas também contra alguns setores da sociedade. Medidas de concentração de poder que vem sendo tomadas para combater o Covid-19 podem até ser necessárias para viabilizar o atendimento público da saúde e a “proteção” da população, porém há uma fronteira tênue entre isso e as derivas autoritárias. Além do mais, é preciso lembrar que se o confinamento massivo aparece praticamente como a única alternativa hoje, isto deve-se, em grande medida, à política de privatização sem fim das últimas décadas. O neoliberalismo sucateou tanto a saúde que, em situações como esta, não temos capacidade de poder contar (nem sequer nos países europeus que antes disso se orgulhavam) com uma resposta pública à altura.
A quarentena é necessária, mas as políticas de exceção que começam a se estender são insustentáveis. Elas, aliás, não começaram com o coronavírus e, em alguns casos, poderão não desaparecer quando a pandemia tenha passado. A militarização dos territórios e da vida já estava amplamente disseminada nos últimos anos, bem como a subsequente criação de novos inimigos –internos e externos–, dela derivada. Estamos diante da biopolítica em estado puro, com um grau de aceitação inédito da população. Antes, vigiavam e puniam. Agora, vigiam, punem e todos aplaudimos, encerrados em nossas casas. Não nos enganemos: a vigilância permanente – das formas mais clássicas aos rastreamentos digitais e drones–, o controle e gestão dos big data, os novos dispositivos de reconhecimento facial e outras formas sofisticadas de controle social estão se aprofundando não somente para combater um vírus.
É preciso neutralizar os negacionistas e os oportunistas de plantão, mas também reconhecer uma dimensão trágica no confinamento: ele é socialmente necessário, mas politicamente perigoso. Isto porque não podemos isolar a excepcionalidade das medidas típicas deste momento político com a conturbada conjuntura que vivemos no Brasil, na América Latina e no mundo. Pensemos, por exemplo, nas consequências do possível fechamento total de fronteiras e no estado de sítio em países como o Chile insurgente, a Bolívia com suas sequelas de um golpe ou a Venezuela já tão afetada com problemas de abastecimento interno. Estamos somente no início de uma emergência sanitária, que também deve ser vista como uma emergência política e social, principalmente em sociedades tão desiguais como as latino-americanas.
Aprendizados políticos e resistências sociais em tempos de coronavírus
Este retrato sombrio da política em tempos de confinamento, felizmente, é uma imagem parcial. Para além do necessário e cada vez mais urgente #ForaBolsonaro, as resistências sociais estão sendo construídas, embora nem sempre sejam visíveis. Há, de fato, uma série de aprendizados políticos que a atual conjuntura contribui a visibilizar e que constituem pilares fundamentais para construir um horizonte alternativo ao atual.
O primeiro deles é a importância da luta contra o antropocentrismo. Se a própria emergência do coronavírus é resultado de nossos desequilíbrios ecossistêmicos, a desaceleração da economia e pouco mais de uma semana de restrições de carros e aviões já serviram para que a maioria das capitais do mundo tenham visto suas estratosféricas taxas de poluição descender pela metade. Isto nos lembra que sem luta contra a mudança climática, por alternativas a um desenvolvimento econômico depredador e pela justiça ambiental não haverá planeta nem vida que se sustente no futuro próximo.
Outro aprendizado societário da política em tempos de coronavírus é a centralidade dos cuidados na manutenção da vida e sua divisão absolutamente desigual em termos de gênero. As feministas insistem nisso há muito tempo, mas agora o confinamento de boa parte da população mundial em suas casas, com crianças sem escolas e famílias inteiras sob o mesmo teto, explicita ainda mais esta escandalosa realidade. Para que as tarefas do cuidado não sigam recaindo exclusivamente nos corpos das mulheres, a quarentena deveria ser vista como uma oportunidade ímpar de inflexão para que os homens pudessem se envolver ativamente em uma mudança radical de cenário, transformando a organização do trabalho em casa e fora dela. Aos homens, a mensagem é clara: não vale começar agora e dizer que depois, após o fim da quarentena, “não há tempo”. Deve ser um caminho sem volta atrás. Somente assim poderemos construir, em termos práticos, sociedades mais igualitárias e alternativas anti-patriarcais.
Um terceiro eixo de aprendizado é o da defesa e reconstrução dos serviços públicos. A luta contra o coronavírus tem visibilizado a importância da saúde pública, gratuita e universal, bem como a centralidade do financiamento público para pesquisas como uma das poucas amálgamas de nossas sociedades e formas de proteção das pessoas. O momento aqui também é crítico: ou defendemos e reconstruímos a saúde pública (e os serviços públicos em geral), em um momento onde fica escancarada a sua importância, ou não haverá volta atrás. Trata-se mesmo de impor o bem estar geral diante das reações do mercado e os operadores políticos da mercantilização.
Mas, para além da defesa do público, a crise atual também alerta para a importância da coletividade e da vida comunitária. Paradoxalmente, em tempos de profunda individualização da sociedade e em um momento onde o isolamento tem um carácter eminentemente individual, várias iniciativas sociais passam a valorizar e a defender a vida em comum. Nos sentimos mais sozinhos e estamos mais vulneráveis aos diversos riscos em jogo, mas também multiplicou-se a empatia, a solidariedade e as redes de apoio mutuo. Jovens que se disponibilizaram a comprar alimentos ou remédios para a população em situação de risco que não pode sair de casa; famílias que se dispõem a cuidar de crianças de outras famílias que precisam continuar trabalhando; iniciativas que promovem intercâmbios, a troca direta e o escambo quando as portas de muitos comércios fecham e as necessidades econômicas começam a apertar; coletivos que oferecem apoio psicológico, legal e trabalhista para aqueles que estão sofrendo de maneira mais direta as consequências da crise. O fortalecimento dos laços sociais e dos vínculos comunitários, portanto, é outra das potencialidades de resistência em tempos de coronavírus.
Igualmente, outro aprendizado que emerge com a pandemia está relacionado à alimentação. Fazer a compra é um dos poucos motivos pelos quais muitos saímos de casa, em alguns casos assustados pela possibilidade (real ou imaginária) de desabastecimento de produtos básicos. Os meios de comunicação reproduzem imagens de filas enormes nos supermercados diante de um alarme social provocado por compras compulsivas. O que pouco se diz é que o que realmente está em jogo é o direito à alimentação. Há décadas os movimentos camponeses, redes alimentares e a própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura chamam nossa atenção para um modelo insustentável de alimentação, altamente concentrado em grandes superfícies de distribuição, reivindicando como alternativa a segurança e a soberania alimentar. Em momentos críticos como o atual, mais do que nunca, começamos a pensar sobre o que e como se produz, se consume e se distribui. A disjuntiva é clara: ou apostamos todas as fichas em uma mudança de nossos hábitos, mas também do sistema alimentar como um todo (com cadeias locais e produtos sustentáveis e ecológicos, por cima das exigências dos supermercados, das grandes empresas e do mercado) ou estaremos destinados ao aprofundamento de uma catástrofe alimentar.
Diante da emergência provocada pela crise sanitária, a resistência social não se restringe a panelaços nas janelas e varandas. Eles são fundamentais, mas somente com eles Bolsonaro não cairá, nem tampouco mudaremos as bases fundamentais dos nossos problemas mais prementes. Por isso, estas iniciativas diversas sinalizam para emergências sociais de uma transição necessária. Sem elas e o fortalecimento dos coletivos, das redes e dos movimentos que as sustentam (principalmente ecologista, feminista, juvenil, comunitário e campesino-indígena) nosso horizonte de futuro será ainda mais restrito.
[1] Investigador da CLACSO. GT Extensión crítica: teorías y prácticas en América Latina y Caribe. Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Membro do comité diretor da Associação Latino-americana de Sociologia e presidente do Comité dos Movimentos Sociais da Associação Internacional de Sociologia. Artigo publicado na Folha de S. Paulo, 31/03/2020.

Mucho más que un cacerolazo:
resistencias sociales en tiempos de coronavirus
Breno Bringel[1]
Tan pronto la pandemia del coronavirus fue llegando a América Latina, se difundió una oleada de sentimientos muy diversos entre la población. Agobio frente a la saturación de acontecimientos, ansiedad frente al encierro, frustración ante la impotencia y perplejidad ante lo desconocido. En algunos casos, como en Argentina, la repuesta gubernamental fue rápida y relativamente bien coordinada. En otros casos, como en México, hubo mucha negligencia inicial. Y, aunque Sebastián Piñera en Chile, Lenin Moreno en Ecuador o Iván Duque en Colombia se esforzaron bastante para llevarse la palma del presidente más necio ante la emergencia sanitaria, obviamente nadie ha logrado superar a Jair Bolsonaro. Sus irresponsables posiciones y desastrosas apariciones públicas dejaron a los brasileños con una fuerte sensación de desprotección e, incluso, de rabia frente a uno de los pocos mandatarios del mundo que se ha atrevido a contrariar abiertamente las recomendaciones de la Organización Mundial de la Salud, deslegitimando también a los científicos.
El miedo al virus (y, en muchos casos, principalmente a sus consecuencias) es una postura muy explayada, pero todavía peor es el negacionismo de aquellos que siguen minimizando la importancia de la pandemia. Con argumentos como “la letalidad no es tan alta”, “mata más la gripe” o “ya hemos tenido epidemias y pandemias peores en la historia”, Bolsonaro y su séquito buscan, una vez más (tal como ya lo hicieron antes con el holocausto o el cambio climático), generar controversias ante hechos empírica e históricamente verificables sobre los cuales existe un amplio consenso. Sea por egoísmo, por convicciones religiosas, por estrategia política o por perturbaciones psíquicas de algún tipo, ponen en riesgo la vida de contingentes enormes de la población, especialmente los más vulnerables.
A pesar de esta dramática situación causada por una posición inhumana frente a la pandemia, las medidas de aislamiento físico y las duras políticas de restricción a la movilidad, aunque necesarias para intentar contener la expansión del contagio, traen consecuencias que necesitan mayor discusión. Ello debe hacerse no por los motivos expuestos por la extrema derecha, sino por el hecho de que puede poner en jaque nuestras libertades y la democracia, fortaleciendo el autoritarismo social y político ya tan diseminado.
El Estado interventor es reivindicado ahora hasta por los neoliberales, pero con él también vienen los militares en las calles, los estados de emergencia en los que todo se suspende y la instalación de una lógica bélica no sólo contra el virus, sino también contra algunos sectores de la sociedad. Medidas de concentración de poder adoptadas para combatir el Covid-19 pueden incluso ser necesarias para posibilitar la atención pública de la salud y la “protección” de la población. Sin embargo, hay una frontera muy tenue entre eso y las derivas autoritarias. Asimismo, es importante recordar que, si el confinamiento masivo aparece hoy como prácticamente la única alternativa, esto se debe, en gran medida, a la política de privatización de las últimas décadas. El neoliberalismo destrozó tanto la salud pública que, en situaciones como ésta, no tenemos la capacidad de poder contar (ni siquiera en los países europeos que antes estaban orgullosos de ello) con una respuesta pública a la altura.
La cuarentena es necesaria, pero algunas políticas de excepción que empezamos a ver en varios países son insostenibles. Sabemos, además, que no empezaron con el coronavirus y, en algunos casos, podrán no desaparecer cuando la pandemia haya pasado. Ya estaban ahí, militarizando los territorios y las vidas, bien como contribuyendo a crear nuevos enemigos, internos y externos. Vivimos la biopolítica en estado puro, con una aceptación histórica de la población. Antes, vigilaban y punían. Ahora, vigilan, punen y todos aplaudimos, encerrados en nuestras casas. Pero no nos engañemos: la vigilancia permanente –de las formas más clásicas a los rastreos digitales y drones–, el control y el manejo de big data, los nuevos dispositivos de reconocimiento facial y otras formas sofisticadas de control social no se están profundizando sólo para combatir a un virus.
Es necesario neutralizar a los negacionistas y a los oportunistas, pero también debemos reconocer que hay una dimensión trágica en el confinamiento: es socialmente necesario, pero políticamente peligroso. Eso ocurre porque no podemos aislar la excepcionalidad de las medidas típicas de este momento con la conturbada coyuntura política que vivimos en nuestra región y en el mundo. Pensemos, por ejemplo, en las consecuencias de un posible cierre total de fronteras y en los usos y abusos del Estado de sitio para otros fines. Eso no es un tema menor en el actual escenario de confrontación política, desde el Chile insurgente y rebelde hasta una Bolivia golpeada o una Venezuela ya tan apremiada de agitaciones e inestabilidades. Además, estamos sólo en el inicio de una emergencia sanitaria que, en sociedades tan desiguales como las nuestras, también debe ser vista como una emergencia política y social.
Aprendizajes políticos y resistencias sociales
en tiempos de coronavirus
Este retrato sombrío de la política en tiempos de reclusión contrasta, sin embargo, con un escenario de aprendizajes políticos que la actual situación contribuye a visibilizar. El primero de ellos es la importancia de la lucha contra el antropocentrismo. Si la propia emergencia del coronavirus es resultado de nuestros desequilibrios ecosistémicos, la desaceleración de la economía y poco más de una semana de restricciones de coches y vuelos han servido para que la mayoría de las capitales del mundo hayan visto sus estratosféricas tasas de contaminación bajar hasta la mitad, mientras vemos insólitas imágenes de animales circulando por calles vacías. Eso nos recuerda que, sin lucha contra el cambio climático, por alternativas al desarrollo y por la justicia ambiental no habrá planeta ni vida que se sostenga en el futuro próximo.
Otro aprendizaje societario de la política en tiempos de coronavirus es la centralidad de los cuidados para mantener la vida y su reparto absolutamente desigual. Las feministas llevan tiempo insistiendo en ello y ahora el confinamiento de medio mundo en sus casas, con niños sin cole y la familia al completo bajo el mismo techo, lo vuelve todavía más explícito. Casi escandaloso. Para que las tareas del cuidado no sigan recayendo casi exclusivamente en los cuerpos de las mujeres, la cuarentena debería ser vista como una oportunidad de inflexión para que los hombres puedan involucrarse activamente en un cambio radical de escenario, transformando la organización del trabajo en casa y fuera de ella. A los hombres, el mensaje es claro: no basta con empezar ahora y luego, tras el fin de la cuarentena, decir “no tengo tiempo”. Debemos emprender un camino sin vuelta atrás. Sólo así se podrán construir, en términos prácticos, sociedades más igualitarias y alternativas antipatriarcales.
Un tercer eje de aprendizaje tiene que ver con la defensa y reconstrucción de lo público. Tras décadas de desmantelamiento de los servicios públicos por el neoliberalismo, la lucha contra el coronavirus ha visibilizado la importancia de la salud pública, gratuita y universal, así como la centralidad de la financiación pública para investigaciones socialmente relevantes. El momento también es crítico: o defendemos y reconstruimos la salud pública (y los servicios públicos en general), en un momento donde queda muy clara para toda la sociedad su importancia, o no habrá tampoco vuelta atrás. Se trata de anteponer el bienestar general de las personas frente a las reacciones del mercado y los operadores políticos de la mercantilización. Y, en última instancia, de poner la vida ante la economía y el capitalismo, algo que excepcionalmente encuentra eco en este momento, aunque no sabemos hasta cuándo.
Más allá de la defensa de lo público, la crisis contemporánea también está poniendo en cuestión la importancia de la colectividad y la vida comunitaria. Paradójicamente, en un momento donde el aislamiento tiene un carácter eminentemente individual, varias iniciativas sociales pasan a valorizar más la vida en común. Nos sentimos más solos y estamos más vulnerables, pero también se ha potenciado la empatía, la solidaridad y una serie de redes de apoyo mutuo. Jóvenes que se ofrecen para hacer la compra de alimentos o medicamentos para población de riesgo que no puede salir de casa; familias que se disponen a cuidar de niños de otras familias que tienen que seguir trabajando; iniciativas que promueven intercambios y trueques en momentos de cierre de los comercios y de necesidades económicas apremiantes; colectivos que ofrecen ayuda psicológica y/o laboral para los que ya están sufriendo de manera más directa las consecuencias de la crisis. El fortalecimiento de los lazos sociales y de los vínculos comunitarios, por lo tanto, es otra de las potencialidades de resistencia en tiempos de coronavirus.
Asimismo, otro aprendizaje que sale a flote con la pandemia está relacionado a la alimentación. Ir a hacer la compra es uno de los pocos motivos por los cuales podemos salir de casa y muchos estamos asustados por la posibilidad (real o imaginaria) de desabastecimiento de productos básicos en muchos lugares. Los medios de comunicación reproducen imágenes de colas en los supermercados ante la alarma social y las compras compulsivas. Pero lo que realmente está en juego es el derecho a la alimentación. Hace décadas que los movimientos campesinos y redes alimentarias llaman la atención para un modelo insostenible de alimentación concentrado en grandes superficies de distribución, reivindicando como alternativa la seguridad y la soberanía alimentaria. En momentos como los actuales, más que nunca, nos ponemos a pensar sobre qué y cómo se produce, se consume y se distribuye. La disyuntiva es clara: o apostamos todas las fichas en un cambio de nuestros hábitos, pero también del sistema alimentario como un todo (con cadenas relocalizadas y productos sostenibles y ecológicos, por encima de las exigencias de las grandes empresas y del mercado) o estaremos abocados a una profundización de la catástrofe alimentaria.
Ante la emergencia provocada por la crisis sanitaria, la resistencia social no se restringe a cacerolazos en los balcones y ventanas. Está también arraigándose en iniciativas sociales diversas que vislumbran las emergencias sociales de una transición necesaria. Sin ellas y el fortalecimiento de redes ciudadanas, vecinales y los movimientos que las sostienen (principalmente ecologista, feminista, juvenil, comunitario y campesino-indígena) nuestro horizonte de futuro se verá todavía más restringido.
[1] Investigador de CLACSO. GT Extensión crítica: teorías y prácticas en América Latina y Caribe. Profesor de la Universidad del Estado de Río de Janeiro. Miembro del comité directivo de la Asociación Latinoamericana de Sociología y presidente del Comité de Movimientos Sociales de la Asociación Internacional de Sociología. Artículo publicado en Latinoamerica 21 y en Open Movements / Open Democracy, 1/4/2020.

Si desea recibir más información sobre las propuestas de formación de CLACSO:
[widget id=”custom_html-57″]
a nuestras listas de correo electrónico.