Contra a perseguição político-ideológica no Brasil
É com extrema indignação que o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) recebe a notícia de que o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, por meio da “Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas” (Decreto n. 9662/19), elaborou lista com nomes, fotos e documentos de servidores públicos da segurança e professores universitários por supostamente manifestarem opiniões contrárias ao fascismo, o que configura clara perseguição político-ideológica, expressamente proibida pela Constituição Federal de 1988 (art. 5o, VIII).
Um dos listados é o Professor Paulo Sérgio Pinheiro, um dos fundadores do NEV. Paulo Sérgio Pinheiro é considerado e reconhecido por autoridades e organizações nacionais e internacionais como um dos grandes nomes da história dos Direitos Humanos no Brasil e no mundo, tanto por sua atuação acadêmica, quanto por sua trajetória de atuação política. Atualmente é Relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para a situação de Direitos Humanos na Síria. Foi Secretário Nacional de Direitos Humanos, membro da Comissão Nacional da Verdade e professor titular da Universidade de São Paulo, além de ter lecionado na Brown University, Columbia University, Notre Dame University, Oxford University e École des Hautes Études en Sciences Sociales.
Paulo Sérgio coordenou, juntamente com o Professor Sérgio Adorno e Nancy Cardia, um dos primeiros estudos do NEV-USP, cujo tema ainda repercute em nossa sociedade. O trabalho “Continuidade Autoritária e Consolidação da Democracia” (1994 a 2000) analisou a continuidade de violações dos Direitos Humanos no processo de democratização brasileiro, de construção da cidadania pós-Constituição de 1988 e de reconquista do Estado de Direito. O momento atual que estamos vivendo expõe e evidencia aquilo que os estudos do Núcleo já apontavam e continuam a apontar, que um autoritarismo presente em nossa sociedade e no Estado continua vigente e que, por isso, não conseguimos avançar no respeito e garantia dos direitos fundamentais para toda a sociedade.
Elaborar dossiês a respeito de quaisquer pessoas por terem ou manifestarem suas opiniões é uma afronta à liberdades de opinião e expressão, pilares da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Constituição Federal e do Estado Democrático de Direito brasileiro, e configura Crime de Responsabilidade quando feito aos auspícios de um Ministro de Estado (art. 4o, II, da Lei 1.079/50). Outra ilegalidade presente neste ato é a classificação do documento como de “acesso restrito”, uma vez que a Lei de Acesso à Informação impede a restrição de documentos sobre condutas que impliquem violação dos Direitos Humanos praticada por agentes públicos a mando de autoridades públicas (art. 21, p. único da Lei 12.572/11). Ou seja, a Lei não permite a restrição de acesso a um ato que é ele mesmo uma violação de direitos fundamentais. Trata-se de mais um exemplo do retorno aos tempos de ditadura promovido pela atual administração, em que a repressão e o autoritarismo constituíam-se como forma de governo. É inaceitável, e passível de impedimento, que o posto de Ministro da Justiça seja utilizado para perseguir politicamente pessoas que não coadunam com as opiniões do governo.
Causa-nos grande preocupação que em um momento extremamente desafiador da história brasileira – somos o segundo país do mundo com maior número de vítimas fatais do novo coronavírus -, tenhamos que testemunhar órgãos do Estado operando com condutas ilegais e sem acompanhamento judicial, claramente ao arrepio da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
O Núcleo de Estudos da Violência da USP tem demonstrado ao longo de mais de trinta anos de atuação, com a liderança exemplar do Professor Paulo Sérgio Pinheiro, que segurança pública só atinge seus objetivos de proteger as pessoas, o patrimônio e as instituições quando atua com base em evidências científicas, com transparência e com respeito aos direitos e garantias fundamentais. Assim, é urgente que a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, investidos nos poderes que lhe foram conferidos pelo legislador constituinte democrata, tomem todas as providências cabíveis para investigar o trabalho efetuado nos porões do Ministério da Justiça, realizando as devidas responsabilizações.
São Paulo, 25 de julho de 2020.
Nota pública contra la persecución político-ideológica en el Brasil
El Núcleo de Estudios de la Violencia de la Universidad de São Paulo (NEV-USP) recibe con extrema indignación la noticia de que el Ministerio de Justicia y Seguridad Pública, a través de la “Dirección de Inteligencia de la Secretaría de Operaciones Integradas” (Decreto Nº 9662/19), ha elaborado una lista con nombres, fotos y documentos de funcionarios de seguridad y profesores universitarios por supuestas manifestaciones de opiniones contrarias al fascismo, lo que constituye una clara persecución político-ideológica, expresamente prohibida por la Constitución Federal de 1988 (art. 5, VIII).
Uno de ellos es el profesor Paulo Sérgio Pinheiro, uno de los fundadores de NEV. Paulo Sérgio Pinheiro es considerado y reconocido por las autoridades y organizaciones nacionales e internacionales como uno de los grandes nombres de la historia de los derechos humanos en el Brasil y en el mundo, tanto por su desempeño académico como por su trayectoria política. Actualmente es el Relator de las Naciones Unidas (ONU) para la situación de los derechos humanos en Siria. Fue Secretario Nacional de Derechos Humanos, miembro de la Comisión Nacional de la Verdad y profesor titular de la Universidad de São Paulo, además de haber enseñado en la Universidad de Brown, la Universidad de Columbia, la Universidad de Notre Dame, la Universidad de Oxford y la École des Hautes Études en Sciences Sociales.
Paulo Sérgio coordinó, junto con el profesor Sérgio Adorno y Nancy Cardia, uno de los primeros estudios del NEV-USP, cuyo tema aún tiene repercusiones en nuestra sociedad. La obra “Continuidade Autoritária e Consolidação da Democracia” (1994 a 2000) analizó la continuidad de las violaciones de los derechos humanos en el proceso de democratización del Brasil, la construcción de la ciudadanía después de la Constitución de 1988 y la reconquista del Estado de derecho. El momento actual que estamos viviendo expone y evidencia lo que los estudios del Núcleo ya señalaron y siguen señalando, que un autoritarismo presente en nuestra sociedad y en el Estado sigue vigente y que, por ello, no somos capaces de avanzar en el respeto y garantía de los derechos fundamentales para toda la sociedad.
La elaboración de expedientes sobre cualquier persona por tener o expresar sus opiniones es una afrenta a las libertades de opinión y expresión, pilares de la Declaración Universal de Derechos Humanos, la Constitución Federal y el Estado Democrático de Derecho brasileño, y constituye un delito de responsabilidad cuando se hace bajo los auspicios de un Ministro de Estado (art. 4, II, de la Ley 1.079/50). Otra ilegalidad presente en esta ley es la clasificación del documento como de “acceso restringido”, ya que la Ley de Acceso a la Información impide la restricción de documentos sobre conductas que impliquen violaciones de derechos humanos cometidas por agentes públicos a instancias de las autoridades públicas (art. 21, párrafo único de la Ley 12.572/11). Es decir, la Ley no permite restringir el acceso a un acto que es en sí mismo una violación de los derechos fundamentales. Este es otro ejemplo del retorno a los tiempos de la dictadura promovido por la actual administración, en el que la represión y el autoritarismo constituían una forma de gobierno. Es inaceptable, y sujeto a impedimento, que el puesto de Ministro de Justicia se utilice para perseguir políticamente a personas que no están de acuerdo con las opiniones del gobierno.
Nos preocupa mucho que en un momento extremadamente difícil de la historia del Brasil -somos el segundo país del mundo con el mayor número de víctimas mortales del nuevo coronavirus- tengamos que presenciar cómo los organismos estatales operan con una conducta ilegal y sin seguimiento judicial, en clara contravención de la Constitución de la República Federativa del Brasil de 1988.
El Núcleo de Estudios de la Violencia de la USP ha demostrado a lo largo de más de treinta años de funcionamiento, con el liderazgo ejemplar del profesor Paulo Sérgio Pinheiro, que la seguridad pública sólo alcanza sus objetivos de protección de las personas, los bienes y las instituciones cuando actúa con base en pruebas científicas, con transparencia y respeto a los derechos y garantías fundamentales. Por consiguiente, es urgente que la Policía Federal, la Fiscalía General y el Tribunal Federal Supremo, investidos de las facultades que les ha conferido el legislador democrático constituyente, adopten todas las medidas apropiadas para investigar la labor realizada en los sótanos del Ministerio de Justicia, cumpliendo las responsabilidades correspondientes.
São Paulo, 25 de julio de 2020.
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