A intensificação do trabalho para as mulheres brasileiras no cenário da covid-19
Silvana Maria Bitencourt[1]
O texto trata de uma reflexão sobre o trabalho das mulheres brasileiras no contexto da pandemia do novo coronavírus.
Primeiramente, penso ser importante situar alguns aspectos gerais, que agravaram o quadro nacional para o Brasil ter se tornado um dos epicentros do novo coronavírus no cenário global, estando atrás somente dos Estados Unidos.
No Brasil, inicialmente a covid-19 recebeu um discurso governamental, que garantiu à população que as medidas protetivas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) não precisariam ser seguidas totalmente, pois o vírus para grande maioria dos corpos jovens e atléticos se manifestaria como uma “gripezinha”[2], o que fez a Covid-19 ser considerada, num primeiro momento, como uma “doença de velho (a)”.
Isso foi agravado pelo fato de que, se todas as pessoas decidissem atender as medidas protetivas da OMS, poderia prejudicar a economia brasileira. Assim, proteger-se do coronavírus seria um desperdício de tempo e de dinheiro para todos (as); também não se apoiava na época fechar escolas, pois os trabalhadores, especialmente as mulheres que ainda são consideradas as principais responsáveis pelo cuidado de seus filhos, precisariam deixar seus filhos para trabalhar.
Dessa forma, seriam os corpos das pessoas com mais de 60 anos que estariam mais propensos a manifestarem a Covid-19 de forma mais grave, portanto esta doença era um risco maior para indivíduos com baixa imunidade, discurso este que contribuiu para aumentar ainda mais a “velhofobia” entre os brasileiros (DOLCE, 2020)[3].
Esse desprezo aos idosos sempre ocorreu, considerando que o Brasil é uma sociedade movida pela exaltação da juventude, no caso das mulheres, do corpo juvenil e fértil colaborando para uma proposta excludente, que homogeneíza o envelhecimento em uma única realidade vivenciada. Logo este deve ser esquecido por meio de um mercado, que oferece o não envelhecer (DEBERT, 2010), assim, assumir o envelhecimento seria uma decisão quase imoral, uma vez que a sociedade capitalista tem seus interesses focados em corpos produtivos, portanto corpos vistos como saudáveis para trabalhar. Sob essa lógica, um corpo velho não teria como ser valorizado nesse contexto (SUAYA, 201).
Depois de passado mais de quatro meses da primeira comprovação de contágio no Brasil, a disseminação do novo coronavírus apresenta um cenário preocupante e avassalador se considerarmos que, no final do mês de julho de 2020, o país já somava 2.662.485 pessoas confirmadas com a doença e 92.475 óbitos resultantes dela, conforme dados publicados pelo ministério da saúde[4]. Isso sem contar com os números referentes aos casos subnotificados de contaminação e mortes, devido à dificuldade de a população ter acesso a testes rápidos para constatar a Covid-19.
Há ainda o próprio colapso que o sistema de saúde em algumas regiões do país apresenta, devido ao fato de não possuir uma estrutura adequada e um número de profissionais suficientes para atender a demanda das pessoas infectadas pelo vírus, que necessitam de atendimento hospitalar (leitos e unidades de terapia intensiva, com respiradores) em manifestações mais grave da doença. Neste cenário pandêmico, filas já se aglomeram não somente nos hospitais em busca de tratamentos para se curar da Covid-19, mas também nas agências bancárias da caixa econômica federal, numa procura por atendimento financeiro.
As grandes filas de pessoas em busca do auxílio emergencial mostram que, além do problema do sistema de saúde brasileiro, também a população de baixa renda, composta pela grande maioria de trabalhadores (as) informais, mulheres do setor de serviços e de cuidados, está buscando uma forma de combater a fome, portanto, em situações de expressiva pobreza, desemprego e trabalho precário, que não lhes garante proteção social e direitos para combater o vírus e cuidarem de si e de suas famílias. Logo, o arsenal que muitos podem incorporar para combater o vírus, cuidando de si, dos outros e do ambiente, a população mais vulnerável pouco pode realizar, considerando que, em muitas regiões do Brasil, inúmeras pessoas, especialmente moradores de favelas[5], não têm acesso diário à água potável, por exemplo. Não podendo lavar as mãos para não se contaminar, vivem em habitações muito precárias, sem saneamento básico. Sem contar que, no início da pandemia, em algumas regiões, faltavam itens como álcool em gel 70%, fazendo com que muitos oportunistas superfaturassem o produto, oferecendo-o à população que poderia comprar com preços muito mais altos do que o permitido no mercado.
Da mesma forma, houve notícias de redes de pessoas aproveitando-se da oportunidade da necessidade urgente de respiradores, que venderam respiradores falsos[6], pondo em risco a saúde dos (as) infectados (as). Nesse sentido, a pandemia também despertou um mercado de oportunistas interessados em ganhar explorando a fragilidade da população de combater o vírus e a doença. Contudo, muitas redes de solidariedade também começaram a ser constituídas nesta pandemia, formadas a partir de grupos de pessoas sensibilizadas com a necessidade dos mais vulneráveis (idosos, pessoas com deficiência e em situação de rua), e a contribuição, muitas vezes, se dá a partir da doação de cestas básicas (comidas e materiais de higiene do ambiente e pessoal).
A necessidade do trabalho de cuidado das mulheres no cenário pandêmico.
Diante da necessidade de combater o vírus, o mais recomendado são práticas como lavar as mãos com água e sabão, uso de álcool em gel 70%, isolamento e distanciamento social. Nos casos leves de covid-19, os indivíduos devem respeitar os dias de quarentena, isolando-se para não contaminar pessoas e familiares, estes que, dependendo do organismo, a covid-19 pode se manifestar também de forma mais grave, podendo necessitar de atendimento hospitalar com internações.
Além disso, diversas recomendações têm aparecido para a população se precaver, que o vírus pode ficar por horas e dias em diversos tipos de materiais (plásticos, couro, papel etc.) de que são feitos os objetos, logo é preciso limpar e conviver com o invisível e o imprevisível de se contaminar em um cenário de transmissão comunitária, ou seja, não se tem certeza de como e onde se contraiu o vírus.
Para a população mais pobre, esta que não tem a opção de trabalho remoto e isolar-se, os riscos de contaminação são maiores, pois o próprio contexto de pobreza não dá condições de esta população se cuidar, como ter recurso para comprar os produtos necessários para fazer a limpeza, a assepsia de seus corpos e ambientes. Como já foi dito anteriormente, muitos vivem em casas muito pequenas, portanto famílias, quando grandes, aglomeram-se, sendo quase impossível fazer a quarentena recomendada.
Conforme as mudanças vinculadas às novas práticas de cuidado do corpo e do ambiente, o confinamento da população em casa tem feito as mulheres trabalharem mais, considerando que as escolas e creches estão fechadas, assim como as instituições de longa permanência tem recomendado que idosos com filhos (as) devem ir para a casa de seus filhos (as) para evitar os riscos de ser contaminado. Nesse caso, a grande maioria que fica com este trabalho de cuidar dos pais idosos tem sido a mulher, além de estas terem que cuidar de seus filhos.
Neste cenário, as mulheres trabalhadoras, especialmente as domésticas que não foram afastadas de seu trabalho com garantia de direitos, já representam para algumas famílias a “dor da perda” no cenário da covid-19.
Tomando como exemplos, temos a empregada doméstica[7] do Rio de Janeiro que foi a óbito por covid-19, por continuar trabalhando em uma casa onde a empregadora tinha voltado da Itália contaminada; e a empregada doméstica no Recife que, pela necessidade de continuar trabalhando no contexto da pandemia e sem escola para deixar seu filho Miguel de 5 anos[8], levou-o para o trabalho e, ao deixá-lo com a empregadora para levar o cão da patroa para passear, perdeu seu filho, pois a empregadora negligenciou seu cuidado, permitindo que se acidentasse fatalmente, caindo de um prédio alto.
Partindo dessa perspectiva, é importante pontuarmos que não se pode deixar de analisar o trabalho das mulheres a partir da bipolarização dos empregos femininos, pois, enquanto algumas mulheres alçaram-se a condição de profissionais executivas intelectuais superiores, outras se mantêm em ocupações tradicionalmente femininas, ou seja, de cuidado (HIRATA, 2009).
Vale a pena ressaltar que esta precarização do trabalho têm incorporado cada vez mais mulheres, tanto em países do norte, onde trabalhadoras são submetidas a tempo parcial, quanto países do sul, em que esta precariedade se faz presente no aumento das trabalhadoras informais, que são chefes de família e não estão protegidas por direitos trabalhistas. E esta parcela da população mundial feminina têm sido especialmente mulheres negras, com baixa qualificação, migrantes que exercem atividades vinculadas especialmente ao trabalho doméstico, cuidado de criança, idosos e pessoas com deficiência (HIRATA, KERGOAT, 2009).
Neste contexto pandêmico da covid-19, o trabalho de cuidado, tanto o desempenhado pelos membros da família, especialmente as mulheres, para promover cuidado de todos (as), quanto o prestado enquanto um serviço com remuneração, sendo este executado por sua grande maioria também por mulheres, aparece nesta pandemia como extremamente necessário no cuidado de pessoas e ambientes, tanto para não se contaminarem com o vírus quanto para se recuperarem da covid-19 quando contaminados.
Contudo, o trabalho de cuidado parece receber maior visibilidade no contexto da pandemia, logo podendo ser ressignificado como um trabalho essencial para todos (as) por meio de rituais públicos de aplausos feitos pela população de diversos países, que reconhece e agradece o trabalho dos (as) profissionais da saúde (DE SENA; SCRIBANO, 2020). Isto aconteceu especialmente às enfermeiras, estas que, pelo trabalho prestado a população, receberam o rótulo de “heroínas” e tornaram-se mulheres visíveis juntamente com as médicas em revistas de grande circulação como a Vogue, a partir da menção de que “ninguém merece mais que essas heroínas”, sendo então o reconhecimento do seu serviço prestado à população.
É importante pontuar que, no cenário anterior a pandemia, estas profissionais já vivenciavam condições de trabalho bastante precárias, como baixos salários, extensas jornadas de trabalho, problemas de saúde física e psíquica, situações de violência e assédios (WLOSKO; ROS, 2018), condições estas que, no contexto da pandemia, vieram a se tornar mais intensos, pois estas mulheres têm se sujeitado a trabalhar, muitas vezes, sem equipamento de proteção individual (EPI), portanto continuam trabalhando apesar do risco, talvez pelo medo do desemprego.
Além da intensificação das jornadas de trabalho nos tempos de covid-19 nos hospitais, vale a pena pensar que o trabalho reprodutivo, que foi historicamente desenvolvido pelas mulheres de forma gratuita no interior das famílias, ainda carrega a romantização de uma atividade que as mulheres naturalmente fariam por amor, portanto era natural das mulheres exercê-lo. Logo sua gratuidade contribuiu para ter sido tratado como invisível pelo capital, apesar de seu aspecto essencial para o desenvolvimento do capitalismo (FEDERICI, 2019).
Essa romantização do trabalho de cuidado acabou contribuindo para as mulheres encararem-no como uma responsabilidade exclusivamente sua, fazendo estas ficarem sobrecarregadas e, muitas vezes, adoecerem por não cuidarem de si, considerando as dimensões que o trabalho de cuidado abarca e os custos emocionais que as mulheres têm assumido para exercer este trabalho. Portanto, as mulheres, neste cenário pandêmico, vivenciam a intensificação do trabalho reprodutivo. Essa intensificação tem ocorrido para as mulheres de classe média, estas que agora não estão mais podendo comprar os serviços de cuidado a partir da contratação de uma empregada doméstica ou uma diarista, além de precisarem lidar com o trabalho doméstico, atualmente também estão exercendo o “trabalho remoto” em suas casas, de modo que muitas precisam conciliar seu trabalho profissional com os afazeres domésticos, incluindo o cuidado dos filhos, pois as escolas estão fechadas e ainda precisam, na grande maioria das famílias, gerenciar as emoções e os sentimentos que afloram em todos (as) nesta pandemia, tais como: medo, preocupação, ansiedade e estresse.
Quanto às mulheres que estão na linha de frente, vale ressaltar a importância especialmente das enfermeiras, que vivenciam as condições precárias de trabalho na saúde, assim como convivem cotidianamente com os sentimentos e as emoções de perderem a vida ou contaminarem sua família, especialmente seus filhos, considerando que o Brasil é atualmente o país com mais mortes de profissionais da saúde pela Covid-19. As informações estão circulando, boletins, dados, sobre tudo que está em jogo neste cenário de muitas mortes, dor e sofrimento, especialmente para os que ficam e não tiveram como se despedir de seus familiares, e fica a interrogação: como ficará a saúde das mulheres no pós-pandemia?
Concluindo, houve uma intensificação da divisão sexual do trabalho, portanto uma atualização das normas de gênero por meio dos papéis sexuais, de modo que as mulheres, principalmente as mais pobres, que sobreviviam do trabalho informal ou dos setores como comércio, trabalho doméstico, babás e cuidadoras de idosos, voltaram ao lar e, além dos problemas de cunho material, que já eram frequentes em suas vidas, estão mais sujeitas a sofrer violência doméstica neste cenário. Desse modo, houve uma atualização dos papéis de gênero, pois os filhos, mais uma vez, aparecem como sendo apenas de responsabilidade das mulheres, ou seja, a maternidade aparece nesta pandemia de forma intensa, assim como a necessidade do trabalho das mulheres na linha de frente.
Além disso, as mulheres, além de fazerem o trabalho doméstico (lavar, passar, limpar, cozinhar), ainda precisam gerenciar os sentimentos e as emoções da família a partir do contexto da pandemia, pois estão todos (as) em casa, os filhos, o marido, muitas vezes, os pais idosos, sendo que todo este trabalho acaba sobrecarregando-as e fazem estas se esquecerem do cuidado de si e da saúde.
Partindo desse ponto de vista, é preciso refletir sobre os efeitos que esta intensificação do trabalho de cuidado feito pelas mulheres poderá causar no pós-pandemia, especialmente para as mulheres em situações mais vulneráveis como as pobres, as negras, as migrantes, as trans, privadas de liberdade, e as idosas etc.
Referências bibliográficas
DEBERT, G. G. (2010). A dissolução da vida adulta e a juventude como valor. Porto Alegre (RS): Horizontes Antropológicos, 16(34), 49-70.
HIRATA, H. A precarização e a divisão internacional e sexual do trabalho. Sociologias, Porto Alegre, ano 11, no 21, jan./jun. 2009, p. 24-41
HIRATA, H.; KERGOAT, D. “Os paradigmas sociológicos à luz das categorias de sexo: qual a renovação da epistemologia do trabalho?”. In: S. BAÇAl (org). Trabalho, educação, empregabilidade e gênero. Manaus, EDUA (Editora da Universidade Federal do Amazonas), 2009, p. 173-189.
FEDERICI, S. O ponto zero da revolução. Trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. São Paulo: Elefante, 2019a.
SCRIBANO, A.; DE SENA, A. The New Heroes: Applause and Sensibilities in the Era of the COVID-19. Culture e Studi del Sociale, 5(1), Special issue, p.273-285, 2020
SUAYA, D. El cuerpo de la vejez desde una perspectiva de género. Aproximaciones desde la vejez de Simone de Beauvoir. Caderno Cedes, Campinas, v. 35, n. 97, p. 617-627, set./dez. 2015.
WLOSKO, Miriam; ROS, Cecilia. La profesión enfermeira y el trabajo de cuidado. puntuaciones de investigación a luz de la psicodinâmica del trabajo y la teoria del care. In: BORGEAUD-GARCIANDÍA, NATACHA. (Org) (2018), El trabajo de cuidado. Buenos Aires: Fundación Medifé Edita, colección “Horizontes del Cuidado”. p. 161-186.
[1] Doutora em Sociologia Política. Professora associada do Departamento de Sociologia e Ciência Política e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá, Brasil. Integrante Grupo de Trabalho CLACSO Sensibilidades, subjetividades y pobreza. Email: [email protected].
[2]Para mais informações, ver: Em pronunciamento Bolsonaro diz que coronavírus é gripezinha. TVCidadeVerde. 25 de mar. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b7KAP31EqTU. Acesso em: 31 jul. 2020.
[3] DOLCE. J. Mirian Goldenberg: “Lutar contra a velhofobia é lutar pela nossa própria velhice”. FolhaGeral.com, 19 de jul.2020. Para mais informações ver: https://www.folhageral.com/direitos-humanos/2020/06/19/mirian-goldenberg-lutar-contra-a-velhofobia-e-lutar-pela-nossa-propria-velhice/#axzz6ToI280bc. Acesso em: 31. Jul. 2020.
[4] Para mais informações, ver: Coronavírus /Brasil. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 30 jul. 2020.
[5] Coronavírus: Sem plano do governo para favelas, moradores e organizações se juntam para controlar contágio. BBC News, 29 mar. 2020. Disponível em: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/coronav%c3%adrus-sem-plano-do-governo-para-favelas-moradores-e-organiza%c3%a7%c3%b5es-se-juntam-para-controlar-cont%c3%a1gio/ar-BB11Sn00. Acesso em: 01 ago. 2020.
[6] Cidade foco de covid-19 no interior de MT paga R$ 4 mi em aparelhos falsos. UOL, São Paulo, 29 mar. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/04/29/rondonopolis-paga-r-4-mi-em-22-respiradores-mas-recebe-equipamentos-falsos.htm. Acesso em: 01 ago. 2020.
[7]Primeira vítima do RJ era doméstica e pegou coronavírus da patroa no Leblon. Maria Luisa de Melo, UOL-RJ, 19 mar. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/19/primeira-vitima-do-rj-era-domestica-e-pegou-coronavirus-da-patroa.htm. Acesso em: 31 jul. 2020.
[8] Caso Miguel: nova perícia é realizada no prédio de onde garoto caiu do 9º andar no Recife. G1, 08 jun. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2020/06/08/caso-miguel-peritos-voltam-ao-predio-de-onde-garoto-caiu-do-9o-andar-no-recife.ghtml. Acesso em: 31 jul. 2020.
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